Cada vez mais comum, o diabetes já faz parte da vida de milhares de brasileiros. Números recentes do Ministério da Saúde (Vigitel – 2016) apontam que a parcela de diagnosticados mais do que dobrou em 10 anos e o país registra, atualmente, mais de 14 milhões de portadores da doença. Embora sua prevalência seja maior entre os adultos, engana-se quem pensa que este mal afeta apenas os mais velhos: o distúrbio também pode surgir durante a infância e adolescência, colocando em risco o desenvolvimento saudável desses jovens. Lidar com o problema certamente é um desafio para os pais, sobretudo quando os filhos estão entrando na puberdade – período no qual as diversas mudanças físicas e psicológicas influenciam diretamente sob o tratamento. Contudo, mesmo com diabetes na adolescência, é perfeitamente possível levar uma vida normal , desde que algumas medidas simples façam parte da rotina.
Distúrbio não é exclusividade de adultos
Quando se pensa na doença é normal associa-la aos maus hábitos alimentos. Isso porque o surgimento do diabetes mais comum, o tipo II, está intimamente ligado a um estilo de vida pouco saudável. Contudo, entre os mais jovens, não são necessariamente as escolhas do cardápio que vão levar ao acometimento da doença – o tipo I, mais prevalente nessa faixa etária, não é passível de prevenção e está ligado a fatores ainda pouco conhecidos pelos médicos – razão pela qual os pais devem ficar ainda mais atentos aos possíveis sintomas.
A doença costuma dar seus primeiros sinais logo na infância, porém, também pode surgir durante a puberdade e até mesmo tardiamente, em adultos. No tipo I, o distúrbio se caracteriza por uma resposta autoimune do organismo que, equivocadamente, ataca e destrói as células do pâncreas responsáveis pela secreção da insulina. Dessa forma, o indivíduo não produz mais este hormônio essencial para o transporte do açúcar no sangue para dentro das células. O resultado: episódios frequentes de hiperglicemia que acarretam em fadiga, sede e fome excessivas, perda de peso acentuada (sem razão aparente) e vontade de urinar frequente. A atenção aos sintomas é extremamente importante, pois, se não diagnosticada e tratada rapidamente, os episódios de hiperglicemia podem levar à desidratação severa e, até mesmo, ao coma.
Dieta restritiva?
É bastante comum que os pais, ao se depararem com o diagnóstico, pensem que a vida do filho será cheia de restrições, principalmente em relação à dieta. Contudo, de acordo com a nutricionista Joanna Carollo, o enfrentamento da doença costuma ser mais brando nessa fase da vida, mesmo com as mudanças necessárias “É fato que o controle da ingestão de açúcar e carboidratos deverá ser feita, assim como na diabetes tipo II. Porém, neste caso, geralmente não existem outras doenças crônicas relacionadas, o que torna a alimentação menos restritiva. Na realidade, a dieta de um jovem diabético (do tipo I) é simplesmente o cardápio saudável que qualquer pessoa deveria seguir: equilibrado, rico em fibras e nutrientes e, principalmente, restrito em relação aos doces e refinados. A única diferença é que por ser dependente de insulina, ele deverá aplicar o hormônio de acordo com a ingesta alimentar”.
Controle glicêmico: desafio é maior na adolescência
Conviver bem com o diabetes requer, necessariamente, um bom controle glicêmico. “É através do tratamento adequado e da alimentação regrada que o diabético conseguirá manter as taxas de açúcar no sangue estáveis, evitando os picos e, consequentemente, afastando as chances de complicações” – explica a especialista da Nova Nutrii. Contudo, essa tarefa pode se tornar mais árdua numa fase em especial: a adolescência. “Na infância, normalmente são os pais os responsáveis pelo tratamento e, principalmente, pela alimentação da criança. Contudo, com o passar dos anos e o ingresso na puberdade, o jovem começa a ganhar certa independência em relação aos cuidados e, nesse momento, pode se descuidar da dieta, dando margem a um descontrole da glicemia. Os jovens que descobrem o distúrbio nessa fase, em especial, podem demonstrar certa resistência ao tratamento, por acreditarem que isso implica em deixar de lado aquilo que gostam”. Contudo, Carollo afirma que é preciso que os pais transmitam tranquilidade em relação ao enfrentamento da doença e também demonstrem aos filhos que a disciplina é o melhor caminho para ter qualidade de vida, sem abrir mão dos prazeres ocasionais.
Cuidados com o cardápio
A escolha dos carboidratos
Para os jovens portadores da diabetes tipo I, a aplicação de insulina é indispensável: como o pâncreas não produz mais o hormônio é preciso fornecê-lo frequentemente ao organismo, para que ele consiga ”aproveitar” adequadamente o açúcar vindo dos alimentos, direcionando-o às células e reduzindo sua concentração na corrente sanguínea. Para isso, uma das primeiras instruções do tratamento é a “contagem de carboidratos”, método no qual o indivíduo aprende a calcular a quantidade de insulina necessária sempre que ele for comer algo capaz de “subir” sua glicemia. Contudo, esse não é o único cuidado do dia a dia desses jovens – “Não basta, por exemplo, calcular a insulina necessária para um prato de macarronada, é preciso saber escolher quais carboidratos vão compor a dieta. Esses pacientes devem optar pelos carboidratos complexos que, por liberarem açúcar mais lentamente no organismo, sobem menos a glicemia. Dessa forma, evita-se tanto o pico da glicemia, quanto sua queda brusca (hipoglicemia), que também é prejudicial aos diabéticos”. – explica Carollo
Combinar o carboidrato a outro nutriente
Carboidratos são alimentos facilmente absorvidos pelo organismo, sobretudo os refinados (massas brancas, açúcares e grãos processados), que se transformam rapidamente em açúcar no sangue. Os complexos, também conhecidos como de baixo índice glicêmico, demoram um pouco mais para serem convertidos em glicose, por isso devem ser a principal aposta do cardápio diabético. Contudo, ainda existe mais uma medida fundamental para reduzir o impacto desses alimentos sob a glicemia: combinar sua ingestão com fibras e/ou proteínas. “Como esses alimentos demoram mais para serem digeridos pelo organismo, fazem com que o carboidrato consumido também demore mais para ser absorvido. Portanto, é fundamental que o cardápio conte com fontes de fibras (que podem os próprios carboidratos na sua forma integral) e proteínas, como carnes magras, ovos, leite desnatado (ou de fontes vegetais) e derivados lácteos próprios para diabéticos.”
Equilíbrio e regularidade
O aporte nutricional adequado é outra preocupação frequente dos pais, uma vez que seus filhos se encontram em fase de crescimento e, portanto, necessitam de uma oferta alimentar variada. Mesmo com as restrições do cardápio, jovens diabéticos podem atingir tranquilamente a quantidade de nutrientes essenciais ao seu desenvolvimento sadio, contudo é preciso atentar para o equilíbrio da dieta. Como precisam manter o controle glicêmico, é recomendado fracionar a alimentação em até seis pequenas refeições ao dia, geralmente a cada 3 horas, atentando sempre para que essas refeições contenham todos os grupos alimentares: gorduras boas, carboidratos complexos (de forma moderada), proteínas e fibras. O jovem não deve jamais pular refeições ou ficar muito tempo sem comer (com o intuito de evitar as aplicações de insulina), pois isso pode levá-lo a um quadro de hipoglicemia.
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Medidas de apoio
Praticar exercícios físicos
Embora portadores de diabetes tipo I sejam geralmente magros, os exercícios físicos (especialmente os de resistência, que fortalecem a musculatura) são indispensáveis para a manutenção d
a saúde, pois ajudam a controlar a glicemia. Contudo, para que o esporte faça parte da rotina desse jovem, é fundamental acompanhamento médico, pois, tanto a dieta quanto o tratamento deverão contemplar as necessidades geradas pela atividade física escolhida.
Engajamento familiar
Um dos pontos mais importantes do tratamento é o acolhimento da família, especialmente em relação à dieta. Incorporar ao cardápio familiar, na medida do possível, algumas mudanças impostas ao adolescente ajuda a melhorar sua percepção em relação aos cuidados, fazendo com que ele encare essa nova rotina de maneira mais leve. “Quando a família também “abraça” essa mudança, melhorando a qualidade da alimentação, o jovem não se sente “excluído” e passa a ver a dieta como algo natural. Sem as “tentações” em casa, também fica mais fácil manter a disciplina em outras situações, quando as refeições não são monitoradas pelos pais, por exemplo. No final das contas, todos ganham em saúde”. – conclui Carollo.